Cães que Fizeram História

DUMPY – O Cão Vadio que se Tornou um Cão de Raça

Os cães de raça pura são considerados a aristocracia do mundo canino. Porém, tal como na nobreza dos humanos, os nomes mais celebrados tiveram às vezes origens humildes. É difícil imaginar um começo mais modesto do que o da raça Boykin Spaniel, cão de caça de estatura mediana, bem conhecido no Sul dos Estados Unidos. Incrivelmente, a origem desta raça vem de um único cão de rua com o pouco aristocrático nome de Dumpy.

Alexander L. White encontrou a pobre e sujíssima criatura em 1911, a vaguear ao pé de uma igreja em Spartanburg, Carolina do Sul. White levou-o para casa, alimentou-o e deu-lhe banho, vindo a descobrir durante numerosas saídas para caçar que Dumpy tinha todas as qualidades para se tornar num excelente retriever. Um amigo seu, treinador de cães Iwhit Boykin, ficou igualmente impressionado. White entregou o refugiado da porta da igreja a Boykin, que o cruzou com cadelas de caça.

Finalmente, após vários aperfeiçoamentos, a descendência de Dumpy transformou-se num elegante Boykin Spaniel, visto frequentemente hoje em dia em desfiles de cães. O Boykin é ate considerado o cão do estado da Carolina do Sul – um passo bem grande para os descendentes de um cão vadio.

TITINA – O primeiro Cão a Voar sobre o Polo Norte

Quase todos os cães que visitam as regiões árticas do planeta fazem-no para puxar trenós Não foi, porém, o caso da intrépida Fox Terrier Titina, que chegou ao Pólo Norte em relativo conforto a bordo de um avião. A pequena cadela começou a vida abandonada e esfomeada nas ruas de Roma. Um ano de 1925 teve a sorte de se encontrar com o pioneiro dos dirigíveis, Umberto Nobile. À partir daí, Nobile e Titina (o nome provém de uma canção italiana) tornaram-se inseparáveis. Partiharam o perigo, a aventura e, finalmente, o desastre. Os dois eram tão próximos que, em 1926, Nobile tomou a excêntrica e também pouco acertada decisão de levar com ele a sua mascote de 5kg numa tentativa histórica de voar numa aeronave, desenhada por ele mesmo sobre o Pólo Norte.

A pequena Titina não ocupava muito espaço mas o comandante da expedição, o famoso explorador Roald Amudnlsen, manifestou-se duramente, pois as condições no interior da aeronave eram tão pequenas que a tripulação de dezesseis homens nem tinha espaço para sentar. O único passageiro que tinha esse privilégio era Titina, que se enrolava em um cobertor.

A sua viagem sobre o Pólo Norte fez de Titina uma estrela da mídia. As notícias sobre a expedição contavam em grande detalhe as suas condições de vida a bordo e até o que vestia (uma camisola de lã encarnada). O New York Times chegou a publicar uma biografia sua. Após o voo, Titina foi dar a volta ao mundo com Nobile, tendo conhecido todos os famosos da época, desde Rodolfo Valentino a Benito Mussolini. 0 grande aviador da gostava tanto sua cadela que nunca queria ser fotografado sem ela, Porém, Titina estava predestinada a partilhar com Nobile também os tempos difíceis.

A 25 de Maio de 1928, durante outra expedição polar, a aeronave de Nobile, Itália, caiu devido a uma tempestade, matando vários membros da tripulação. O pequeno grupo de sobreviventes, que incluía Nobile e Titina, recuperou dos destroços o que pôde e se acomodou no gelo, esperando o salvamento.

Um mês passou até que o grupo foi encontrado por um avião de buscas sueco. Foi então que Nobile tomou a decisão que destruiu a sua reputação. Quando o piloto lhe disse que tinha ordens para o levar só a ele, Nobile entrou no avião com o seu cão deixando a tripulação para trás. Infelizmente, quando o avião voltou para um segundo salvamento, caiu em um despenhadeiro. Os restantes sobreviventes, alguns seriamente feridos, tiveram de passar no gelo mais algumas semanas antes de serem finalmente salvos.

Nobile foi severamente censurado pela imprensa pelas suas ações. Especialmente na Itália, onde seu sucesso – e os seus choques bem conhecidos com o governo fascista – Ihe tenham angariado muitos inimigos no regime do ditador Mussolini. Ele foi o responsável pelo desastre do Itália, matando parte da sua tripulação, o que já era muito crítica mas, pior ainda, abandonou seus homens no gelo (pouco lhe importando o que o piloto dissera) e, ainda, levou o cão consigo.

O homem que conquistou o Pólo Norte via aérea ficou desgraçado para sempre. Teve, porém, algumas consolações. Sobreviveu a ditadura fascista de Mussolini e viu seu nome ser limpo – pelo menos oficialmente – de qualquer incorreção por um inquérito efetuado em 1945 pela Força Aérea italiana. Foi-lhe até devolvida a patente de major-general. E, claro, mesmo nos seus piores dias, nunca perdeu o amor e o apoio de Titina. Do frio do ártico ao frio da desgraça pública, ela nunca deixou de estar ao seu lado.

ROBOT – O Cão que Descobriu Algumas das primeiras Obras de Arte do Mundo

Um dos maiores tesouros culturais do mundo está localizado dentro de um buraco no chão. E aí teria ficado até hoje, desconhecido, se não fosse o feliz acaso de um cão francês o ter descoberto. Aconteceu perto da aldeia de Montignac, França. A 12 de Setembro de 1940, quatro rapazes andavam à procura de um tesouro, que diziam estar enterrado num túnel secreto, no campo circundante.

Os quatro rapazes não tiveram sorte mas o seu cão, Robot, teve. Ele descobriu (há quem diga que caiu num buraco e que teve de ser salvo) um buraco escuro que, os seus companheiros humanos imediatamente pensaram, conduziria às cobiçadas riquezas. Eles nem sonhavam como tinham razão. Tratava-se da entrada para aquela que é hoje a mundialmente famosa Gruta de Lascaux, um subterrâneo complexo cheio de belas pinturas rupestres, em estado quase perfeito. Todas elas datadas de cerca de dez mil anos ou talvez até mais. Ironicamente, a descoberta de Robot quase foi destruída pela atenção que despertou. O calor e a umidade criados pelos milhares de visitantes diários começaram a estragar as pinturas, e Lascaux fol fechada ao público em 1963.

JO-FI – O Cão que Ajudou Freud a Avaliar seus Pacientes

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, adorava cães. Gostava tanto deles que, nos seus últimos anos de vida, no dia do seu aniversário, a filha Anna punha à família canina uns chapéus de festa. E sentava-os em cadeiras à mesa, festejando e comendo bolo de anos juntamente com a família humana de Freud.

Ele gostava particularmente dos de raça chow-chow, de que tinha vários exemplares. Entre eles, o mais importante era Jo-Fi. O grande psicanalista achava que os cães eram excelentes avaliadores de carácter e que ajudavam a pôr as pessoas à vontade. Assim, ele deixava Jo-Fi assistir às consultas. Se o doente estava calmo, o cão deitava-se perto dele; se o doente estivesse tomado de grande tensão oculta, Jo-Fi mantinha-se afastado.

Mas este não era o seu único talento: Jo-Fi sabia avisar, sem qualquer erro, quando a sessão tinha chegado ao seu termo. Passados 50 minutos, o grande chow-chow levantava-se, espreguiçava-se e dirigia-se para a porta do consultório. Desta forma, Freud sabia, sem ter de fazer o gesto deselegante de olhar para o relógio, quando era tempo de despedir o paciente.

GEORGE – O Cão Detector de Cancro

Detectar cancro na sua fase inicial pode ser difícil, mesmo utilizando equipamento médico caro e sofisticado – a não ser que seja detectado por um cão. Os cientistas descobriram que, quando se trata de encontrar algumas formas desta doença mortal, um faro sensível e bem treinado pode funcionar melhor do que qualquer tecnologia altamente desenvolvida.

Parece absurda a ideia de cães cheirando tumores como se fossem coelhos. Como pode um cão, por mais apurado que seja o seu olfato, conseguir tal feito? No entanto, em 1989 a publicação médica inglesa The Lancet apresentou uma história incrível sobre um vulgar cão que desenvolveu um interesse obsessivo por uma verruga na perna da sua tutora. Ela, preocupada, consultou um médico e descobriu que tinha um melanoma maligno, o qual eventualmente a levaria à morte se não tivesse sido detectado.

Esta história, juntamente com outras semelhantes, despertou o interesse do dermatologista norte-americano especialista em cancro de pelo Dr. Armand Cognetta, de Tallahassee, Florida. Ele Sabia que muitos casos de melanoma não são descobertos até ser tarde demais para salvar o doente e propôs a hipótese de cães serem treinados a “cheirar” a doença nas suas fases iniciais. Mas como treinar um cão para isso? Sem saber que caminho seguir, falou com Duane Pickel antigo chefe Corpo Canino da Polícia de Tallahassee, e perguntou-lhe se sabia de algum cão que estivesse à altura desta tarefa. Pickel mencionou o seu próprio cão, um Schnauzer chamado George .

George era já um farejador de bombas altamente qualificado. Mas esta sua nova missão requeria uma preparação ainda mais rigorosa. Primeiro, foi ensinado a cheirar tubos de ensaio contendo pequenas quantidades de melanomas malignos. Depois, a amostra foi presa a um voluntário por uma ligadura. O voluntário ostentava simultaneamente outras ligaduras no corpo que não continham amostras de melanoma. Ao fim de dezenas de tentativas, George atingiu 97% de sucesso. Finalmente, tiraram-lhe a coleira e deixaram-no farejar alguns pacientes com verdadeiro cancro da pele. O Schnauzer conseguiu, entre sete, diagnosticar seis casos.

A ideia de um cão “cheirar” cancro não é, na verdade, tão extraordinária como parece, pois eles têm o equipamento necessário: os cães possuem mais de 200 milhões de células olfativas (comparado com a relativa insignificância nos humanos. que é de 5 milhões) e têm dado provas de conseguirem localizar outros alvos bem difíceis, desde um esconderijo com drogas no imenso porão de navio até a um único faisão num vastíssimo campo.

E como a capacidade humana de detectar melanoma no seu início é reduzida, a ajuda dos cães seria providencial – já para não falar no facto de o exame ser mais fácil e mais barato. George, que indicou a possibilidade desta técnica, morreu em 2002 com um tumor no cérebro.

O trabalho, porém, continua. Têm sido feitos estudos, incluindo uma tentativa em Inglaterra de ensinar os cães a detectar o cancro da bexiga cheirando a urina do doente. Espantosamente, a uma das pessoas que se supunha estar de boa saúde e que foi usada na experiência do grupo de “controle” foi detectado cancro na bexiga em fase inicial, quando os cães reagiram fortemente à sua urina supostamente saudável. Graças a estes narizes sensíveis, esta pessoa foi tratada se e recuperou. Tornou-se um dos primeiros – mas não um dos últimos – seres humanos a deve a sua saúde a um cão.

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